terça-feira, 2 de junho de 2009

Traumatismo dentário


O traumatismo dental acomete uma considerável parcela da população e pode ocasionar perdas dentais irreparáveis em alguns casos, tanto no momento do acidente como no decorrer do tratamento, ou até mesmo, anos após.
Os traumas ocasionados na prática esportiva representam uma parcela de 14 a 39%, entre as etiologias do traumatismo dentário. Diversos trabalhos indicam que o índice de traumatismo em esportistas é alto, variando de acordo com o esporte praticado, e superior se comparado ao índice da população em geral. Contudo, os traumatismos dentais no esporte possuem a particularidade de poderem ser prevenidos pelo uso de protetores bucais. Estes promovem a proteção de todas as estruturas dentais e periodontais, ou, pelo menos, reduzem as conseqüências de um possível trauma.
Este guia tem por objetivo orientar a população em geral e os profissionais da área esportiva ou afins a respeito das principais estruturas dentais, da classificação dos traumas passíveis de ocorrer nestas estruturas, como também dos primeiros socorros para esses casos.

O dente e suas estruturas

Esmalte: Envolve a dentina coronária e é o tecido mais duro do organismo. Constituído de 96% de matéria inorgânica e apenas 4% de matéria orgânica e água.
Dentina: Verdadeiro esqueleto do dente. No seu interior, estão presentes a cavidade pulpar e o canal radicular. É extremamente sensível graças à presença das terminações dos filetes nervosos que penetram no seu interior.

Polpa: Tecido de consistência flácida, onde estão contidos os vasos e os nervos.

Ligamento periodontal: Compreende as fibras conjuntivas, vasos sangüíneos e linfáticos, células e nervos que fazem a união entre a superfície radicular (cemento) e as paredes do osso alveolar, fornecendo sustentação ou suporte.





Cemento: Moldado sobre a dentina radicular, constitui-se no meio de inserção das fibras do ligamento periodontal.

Osso alveolar: Parede óssea que reveste a raiz dental.

Classificação das lesões dentárias - OMS

As lesões dentárias dividem-se em: lesões das estruturas mineralizadas e polpa e lesões das estruturas periodontais.

Lesões das estruturas mineralizadas e polpa:

Trinca do esmalte: Fratura incompleta sem perda de substância. É de difícil visualização, exigindo normalmente exames específicos. Desta forma, pode estar presente em qualquer traumatismo (de alto ou baixo impacto) que envolva maxila, mandíbula, regiões adjacentes ou diretamente no dente.

Fratura não complicada da coroa (esmalte e dentina): É caracterizada por uma fratura envolvendo, esmalte e dentina. Neste tipo de fratura, normalmente não está presente sangramento de origem dentária, porém esta região pode estar bastante sensível devido à presença das terminações nervosas nesta estrutura dental.

Fratura complicada da coroa (esmalte, dentina e polpa): Neste tipo de fratura, geralmente a sensibilidade local é extrema e a presença de sangramento dental é encontrada.

Fratura total da coroa: Nesta fratura, ocorre perda total da coroa do elemento envolvido. Sensibilidade e sangramento usualmente estão presentes.

Fratura de coroa e raiz: Seus sintomas principais são dor e mobilidade dentária. Deve-se atentar para estes sintomas, uma vez que este tipo de fratura pode passar desapercebido ao exame quando os fragmentos estão justapostos.

Fratura radicular (ocorre fratura apenas da raiz): Apresenta ligeira extrusão dental, mobilidade anormal e pequeno sangramento na gengiva circundante ao dente.

Lesões das estruturas periodontais:

Concussão: O trauma afeta alguns feixes de fibras do ligamento periodontal, mas não ocorre mobilidade nem deslocamento do dente. Pode apresentar sangramento na margem gengival. A principal conseqüência é a sensibilidade do dente quando a vítima morde ou mastiga.

Subluxação: O trauma afeta a maioria das fibras do ligamento periodontal. Há mobilidade, sensibilidade (ao toque ou à mastigação), o sangramento na margem gengival pode ou não estar presente, porém não há deslocamento do dente.

Luxação: O trauma resulta em mudança de posição do dente no arco dental. As luxações podem ser laterais, intrusivas e extrusivas.
Quase todos os traumatismos com luxações dentárias envolvem lacerações extensas dos tecidos moles bucais, com conseqüentes hemorragias. Para contê-las realiza-se os procedimentos normais (compressão direta e gelo) e encaminhamento ao cirurgião-dentista.
As luxações laterais deslocam a coroa do dente para vestibular ou lingual (para fora ou para dentro, respectivamente). Nas luxações extrusivas, há deslocamento do dente para fora do osso (alvéolo). Nas intrusivas, o dente penetra no osso, podendo às vezes até desaparecer na gengiva.

Exarticulação ou avulsão: Deslocamento total do dente para fora do seu alvéolo. Freqüentemente, as lesões de tecido mole estão associadas.

Primeiros socorros

Cuidados iniciais:
Todo paciente exposto a um trauma deverá ser examinado a fim de verificar seu grau de consciência como também seu estado geral de saúde, procurando algum problema mais sério, e, só então, passa-se para a análise do trauma dental.
Deve-se acalmar a vítima, pois a perda total ou parcial de um elemento dentário não promove apenas o problema físico, mas também problemas emocionais.
Deve-se agir com rapidez. Quanto menor o tempo dispensado desde os primeiros socorros até o encaminhamento ao cirurgião-dentista, melhores serão os resultados finais.
Inicialmente, deve-se realizar uma limpeza do local com soro fisiológico, a fim de permitir melhor visualização, além da remoção de material contaminado (terra, areia, entre outros). Dependendo do local onde o trauma ocorreu, a limpeza inicial poderá ser realizada com água potável e sabão.
Se houver hemorragia estanque-a pelos métodos da compressão direta ou aplicação de compressa de gelo no local.
Se houver possibilidade de localização do dente ou fragmento localize-o.
Procede-se a anamnese:
Histórico do ferimento: Saber COMO, ONDE e QUANDO ocorreu a lesão. O local onde ocorreu a lesão indica a possibilidade de contaminação dos ferimentos, sugerindo ou não a profilaxia contra o tétano.
Outras informações gerais devem ser colhidas: inconsciência, dor de cabeça, vômitos, dificuldades visuais, tonturas ou excitações, devido à possibilidade de traumatismo crânio-encefálico nos diversos graus.
Exame físico:
Inspeção visual: Além dos pontos já citados, deve-se atentar para ferimentos na face e nos lábios, tumefação, hemorragia local, lesões profundas na região do mento (queixo), pois podem indicar fratura óssea, alteração de cor do dente uma vez que, pode representar alterações vasculares; deslocamentos, entre outros.
Palpação: Verificar a mobilidade dentária.
Exames específicos: serão realizados pelo cirurgião-dentista.
Proceder aos cuidados específicos para cada tipo de lesão.

Cuidados específicos:

Lesão das estruturas mineralizadas e polpa - fraturas corono-radiculares:
Cuidados gerais, já citados.
Se houver possibilidade, localize o fragmento dentário.
Limpe o fragmento apenas com jatos de soro e mantenha-o em um copo com: soro fisiológico, preferencialmente na geladeira, para evitar sua desidratação, até que o paciente seja levado ao cirurgião-dentista. Atualmente, com a evolução da odontologia estética/restauradora, já é possível a colagem de um fragmento dentário, possibilitando, assim, melhores resultados estéticos daqueles obtidos com qualquer material restaurador.

Lesões das estruturas periodontais:

Cuidados gerais, já citados.
Nos casos de luxação, concussão e subluxação além de encaminhar o paciente o mais rápido possível ao consultório dentário, deve-se evitar que a vítima mastigue ou mesmo coloque as arcadas em contato. Nestes casos, é muito provável a necessidade de imobilização dentária realizada pelo cirurgião-dentista.

Avulsão dentária:

Estando com o dente em mãos segure o mesmo pela coroa e nunca pela raiz.

Não se deve limpar o dente, nem escovar vigorosamente, nem usar agente de limpeza (sabão, detergente...), pois as fibras do ligamento periodontal existentes devem ser preservadas.


Proceda ao reimplante: limpe com soro fisiológico a área de reimplante (local onde ocorreu a avulsão dentária) e o dente para remoção de impurezas. Observe se existe alguma fratura na raiz. Se não houver, tente recolocar o dente no seu local na boca, observando sua posição correta (lado da frente e o detrás do dente) e vá ao o mais breve possível ao consultório dentário.


Caso você não tenha segurança para realizar o reimplante dentário, coloque o dente avulsionado em um recipiente limpo, contendo as seguintes substâncias: leite, (preferencialmente), soro fisiológico ou saliva. Quando se dispõe apenas de saliva, o dente deve ser colocado na boca entre a bochecha e a arcada dentária. Em caso de crianças pequenas, onde existe a possibilidade desta engolir o fragmento, pode-se pedir para mãe ou outro familiar executar esta tarefa.
Procure o dentista o mais rápido possível.


OBS: Em caso de dente-de-leite (decíduo), não se deve fazer o reimplante devido à possibilidade de provocar lesões no germe do dente permanente.
Se durante o traumatismo a pessoa aspirar ou deglutir o dente ou fragmento deslocado, deve-se encaminhá-la ao médico para que este localize o dente e proceda ao tratamento necessário .

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